quinta-feira, 25 de março de 2010

COUNTER-REVOLUTION IN LITHUANIA AND BELARUS


Este título chamou a minha atenção. A Contrarrevolução cativa-me. Mas tem de ser a verdadeira Contrarrevolução.

Por isso, o meu entusiasmo logo esfriou quando vi a ligação deste movimento ao nome e à memoria de Plínio Corrêa de Oliveira, bem como à obra que ele fundou --- a Sociedade para a Defesa da Tradição, da Família e da Propriedade.

Conheci a TFP, em Angola, quando se viviam horas muito amargas, no longínquo ano de 1974, já a seguir à traição nacional.

Num primeiro exame, os títulos com que se apresentava este grupo não deixam ninguém indiferente: ou captam, ou exasperam. Se este fosse o problema, o remédio seria fácil: escolha entre um dos dois caminhos.

Mas a verdadeira questão é muito mais profunda. A TFP nunca foi uma força da Tradição. Aproveitando-se do sentimento mariano de muitos povos, ela foi sempre uma falange da plutocracia americana.

Li uma parte substancial da obra de Plínio Corrêa de Oliveira. Repetia-se muito. Pelo que ler o que eu li, será ler já muitíssimo da sua produção doutrinária.

Logo em Angola, analisei cuidadosamente a sua festejada Revolução e Contrarrevolução. O resto veio depois.

O esquecimento, em que aquele professor brasileiro deixa o capitalismo, fez-me sempre a maior impressão. Nunca descobri, em nenhuma das suas páginas, uma crítica ao sistema capitalista. Entretanto, ataques ao liberalismo são seguidos. Ora o capitalismo mais não é do que a expressão económica dos erros liberais, que Plínio Corrêa de Oliveira tantas vezes fustigou.

Quando, em Nobreza e Elites Tradicionais Análogas, aborda a explosão do capitalismo industrial norte-americano, centra-se na imagem do novo rico e, recortando-lhe agudamente todos os defeitos, destaca apenas a fraca figura que ele faz ao procurar, se não encaixar-se, pelo menos equiparar-se à aristocracia histórica. Não descortinei nem uma linha lamentando a triste sorte dos trabalhadores assalariados.

Quem ataca o socialismo, também deve atacar o capitalismo. Acontece que Plínio Corrêa de Oliveira tinha redobrada obrigação de o fazer. Vejamos porquê:

O magistério pontifício é crítico do capitalismo --- e Plínio Corrêa de Oliveira apresentava-se como católico.

Nos padrões da filosofia escolástica, o capitalismo é, como o socialismo, um sistema sem harmonia (o capitalismo dá predomínio ao elemento material da riqueza; o socialismo valoriza mais o trabalho, que é o elemento formal dos bens produzidos). Quer dizer: ambos incorrem num pecado ontológico. Ora Plínio Corrêa de Oliveira dizia-se tomista.

Por último, há a sensibilidade que não pode aceitar a exploração desumana a que eram sujeitos os proletários no auge do capitalismo. Todavia, Plínio Corrêa de Oliveira nunca fez saber que era uma fera.

«Lithuania is catholic but damaged by liberalism (...)», lê-se no texto do grupo promotor deste movimento. Pelo que se vê, nem só o comunismo perde as almas.

No entanto, a TFP ocupou-se a fazer o quê? --- Em vez de mover uma cruzada pela conversão da terra dos Czares, para que se cumpra a promessa deixada pela Virgem de Fátima, atirava-se aos Papas porque nenhum procedia à consagração da Rússia, nos termos que ela afirmava como necessários. E, pelo meio, iam recolhendo assinaturas de apoio à independência da Lituânia. O resultado, temo-lo diante dos olhos: a Lituânia tornou-se independente, «but damaged by liberalism (...)».

Por mim, só tiro uma conclusão: o propósito da TFP foi o de reduzir o poder do colosso soviético a favor dos Estados Unidos, não obstante a nação americana ser, desde há muito, a mais temível Besta do Apocalipse. E, hoje, é a única actuante!


Joaquim Maria Cymbron