terça-feira, 19 de abril de 2011

REDENÇÃO PASCAL


Misericors et propitius est Dominus,
Tardus ad iram et admodum clemens.
Non in perpetuum contendit,
Neque in aeternum succenset.
Non secundum peccata nostra agit nobiscum,
Neque secundum culpas nostras retribuit nobis. (1)



Com efeito, os nossos primeiros pais desobedeceram à ordem que lhes foi dada pelo Criador e, com eles, desobedecemos todos. Parecíamos irremediavelmente perdidos. Mas não aconteceu assim!

Vou atrever-me a levar até ao sublime religioso o linguajar do profano forense. Logra-se, deste modo, um maior dramatismo e nada se perde em rigor teológico. Direi, pois, que houve um recurso. E qual o seu mérito? --- Este e nada mais que este, porque nem mais se poderia interpor:

Os homens na sua temerária soberba levantaram, entre eles e Deus, a barreira de uma culpa infinita. A reparação tinha de apresentar-se equivalente: já não estava nas mãos dos homens dá-la. A este propósito, S.to Agostinho afirmou: «Vendere se potuerunt sed redimere non potuerunt (2). E S. Tomás foi claríssimo: «Homo autem purus satisfacere non poterat pro toto humano genere; Deus autem satisfacere non debebat; unde oportebat Deum et hominem esse Iesum Christum.» (3).

Que vemos, então?

Um Deus que se faz homem, desce à Terra e pede ao Deus que fica no Céu um compasso de clemência: «Pai, espera um momento! No fel da agonia que me envolverá, eu aceíto o cálice que Me tens destinado e hei-de bebê-lo até à última gota». E o Deus que isto pedia, ainda encontrou forças para implorar o nosso perdão na Cruz bendita em que padeceu e expirou. Ao terceiro dia, vencia a própria morte e, com ela, o pecado de cuja servidão nos libertava.

Trilogia de assombro! Trilogia majestosa! Trilogia única! Porque mesmo depois de cumprida a promessa dos tempos escatológícos, o mistério da Encarnação, a agonia do Calvário e o triunfo da Ressurreição continuarão formando o maior prodígio de sempre! A grandeza do amor, que aqui transparece, é tanta que só de rojo a poderíamos agradecer. A sua verdade impõe-se de tal maneira que até os próprios condenados, no meio dos tormentos infernais, a proclamam em brados de eterna desesperação.

O braço misericordioso de Deus estende-se imenso como a infínitude da Sua justiça. Por isso, Maria, Arca da Aliança, glorificou o Senhor, dizendo: «Et misericordia Eius a progenie in progenies timentibus Eum». (4)
 
 
Joaquim Maria Cymbron
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  1. Ps. 102 (103), 8-10.
  2. Enarr. in Ps. 95, 5 (cit. por Ludwig Ott, Manual de Teología Dogmática , Editorial Herder, Barcelona, 1969, p. 284).
  3. Summa Theologica III, q. 1, a. 2.
  4. Lc. 1, 50 .
JMC