domingo, 5 de outubro de 2008

O 5 DE OUTUBRO


Fala-se muito do 5 de Outubro como aniversário de uma data que, em Portugal, marcou o fim da Monarquia e a implantação da República.
 
Isto não é correcto! A República Portuguesa nasceu em Évora-Monte, em 1834. O que se passou em 1910 foi a sua consagração oficial. À semelhança do tempo que decorre entre a vinda ao mundo de uma criança e o seu registo na competente Conservatória. Com a coincidência até de que registaram a República sem precisar o dia do seu nascimento, do mesmo modo que não era possível determinar esse momento para os expostos na roda.
 
A Monarquia, a histórica, a autêntica, caiu ao cabo de uma sangrenta guerra civil, na qual o bando contrário foi alimentado de mercenários e de dinheiro do estrangeiro. E, para além da luta épica que o Remexido sustentou, durante quatro anos, nas serranias do seu Algarve, mais tarde teve ainda forças para sair a terreiro, na tentativa de um regresso à Tradição, quando a Patuleia fazia tremer as instituições vigentes. Tropas espanholas e britânicas aproximaram-se do Porto e impuseram a Convenção de Gramido. De novo, uma intervenção do exterior a sufocar uma reacção com raízes nacionais.

Em 1910, o panorama foi muito distinto: uns tiros, correu algum sangue, e aquilo que ainda não ganhara completamente uma fachada republicana, ruiu como um castelo de cartas. Acabou a mistificação!

Se queremos restaurar Portugal, só temos a via do legitimismo. O mal a extirpar é a soberania popular. A situação falsa do demoliberalismo, enfeitado com uma coroa, nada resolveria e não livraria a realeza dos ataques pelos erros da política. Esses erros seriam precisamente os mesmos que se estão verificando agora, e já tinham ocorrido antes de 1910.

Restituir Portugal a si mesmo é talvez obra para muito tempo: todo o tecido social tem de ser refeito. A repetição da experiência de oitocentos será talvez mais fácil e é certamente tentadora porque tem a sedução de um êxito mais próximo. Mas é de uma temeridade espantosa, porque não se melhoraria a vida em comunidade, e manchava-se a imagem real.

Entretanto, vamos celebrando o 5 de Outubro como o dia em que, pelo Tratado de Zamora, no longínquo ano de 1143, Portugal nascia como nação livre. O 5 de Outubro, de 1910, nem tem de nos alegrar, nem há-de entristecer-nos. Teve, porventura, o mérito de desfazer uma realidade equívoca!



Joaquim Maria Cymbron

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