De pé e em sentido que o povo vai desfilar. E não é qualquer povo – é o povo
soberano; também não é um desfile banal – é uma marcha a caminho das urnas. É
ou não magnífico?
Uma semana mais e é a festança que chega. Avizinha-se,
todos o sabem, um novo acto eleitoral. Não tardam os pregões públicos, que o
anunciam, na costumada berraria que tudo invade. O pior é que a próxima
peça, a subir à cena, não presta sequer para sofrível drama teatral, como
tantos mais que há. Não, decididamente não serve para tal, porque não vai além
de uns desventurados cortejos, míseros cortejos de uma ponta à outra, o que
ainda nos permitiria olhá-los como peças a subir ao palco, se não fora a sua
medíocre qualidade artística que lhes retira essa possibilidade. Ora a
mediocridade é, possivelmente, a pior nota na escala de valores, porque, mais
do que impotência para ter alguma parcela de utilidade e eficácia, é teimosa na
recusa em descer ao patamar do mau, ao mesmo tempo que nela não se
vê força capaz de subir ao suficiente. Esta tragédia, que não
vale como drama de entretenimento, conforme se acaba de expor, foi desenhada há
muito, muitíssimo tempo, nos escuros recantos da iniquidade. Desprovida de
qualquer tipo de beleza, é fértil em resultados funestos.
O navegante, que atravessou mares borrascosos,
quando avista terra, sente voltar a confiança porque é sinal da proximidade de
um porto de abrigo. Infelizmente, não é esse o sossego que se vive sempre que
aparece à vista aquilo a que os convencionalismos da política resolveram chamar
eleições.
Isto que é, afinal? O que se vê são uns
magotes de gente, onde cada qual grita
que vale mais que os outros, cobrindo-se reciprocamente de ataques soezes e de
torpes injúrias, num clima em que frequentemente são postas de lado as regras
mínimas da civilidade, umas regras que talvez
nunca tenham feito parte dos seus conhecimentos – eis aqui um esboço do
quadro formado por esses cortejos bulhentos, que periodicamente teimam num ir e
vir ao toque de uma música delirante. E é destes amontoados sem lei nem ordem
que, certamente por artes de alquimia, há quem pretenda arrancar os benfeitores
da sociedade política, os magos que trarão o remédio infalível, enfim, aqueles
que, nas voltas do calendário, se apresentam ciclicamente como redentores da
Pátria.
Ocupa-se um cargo político para servir. Isto e
apenas isto confere legitimidade a quem está no respectivo lugar. O modo de
selecção dos seus titulares é assunto sempre subordinado à legitimidade de
exercício. O panorama eleiçoeiro é apto à consecução deste fim?
No dever constante de conceder o juízo mais
favorável à parte, cujo comportamento se aprecia, obrigação esta que é
indeclinável para cada homem, não se pode negar, primo conspectu, que
parece estarmos defronte de um sentimento altruísta com uma ardorosa entrega ao
interesse do próximo. Contudo, torna-se por igual irrefutável que esse
sentimento, sem dúvida positivo, nas circunstâncias apontadas, cai em excessos
que geram suspeição legítima. Há bondade a rodo, é notória a demasia! Quando a esmola é muita, o pobre desconfia,
reza o ditado. Generosidade, aqui; abnegação, acolá! Tão ardente agitação será
movida por um desejo autêntico a prol do comum? Merece crédito todo este afã,
ainda por cima com um número incontável de desencontros e fricções? A
afirmativa, em resposta à interrogação formulada, desafiaria as mais
elementares normas do equilíbrio mental.
Os protagonistas desta balbúrdia contínua dão
pelo nome de partidos. É manifesto que nunca podem governar coisa de jeito.
Governar é construir, e os que gastam engenho e forças, que eventualmente
possuam, a hostilizar-se uns aos outros, só guardam toda essa carga, positiva in abstracto, para a aplicar como meios de destruição. Para mais do que
isto, não lhes sobra tempo nem energia.
A instabilidade dos governos partidários,
resultado infalível da guerra permanente que os esgota, vem confirmar tudo que,
à roda deles, nos é dado contemplar. É a sina a que não podem escapar por força
do sistema em que se atolaram. Nisto está o contraste nítido, que os separa
irreversivelmente de uma organização política dirigida no interesse do homem,
visto e tratado segundo a lei natural.
Em seguida, se perceberá porquê.
Com efeito, as instituições, que ocupam o
cabeçalho do presente texto, dizem tudo: apontam para uma relação de mútua
exclusão e, na verdade, onde está uma das que ali figuram, sente-se a ausência
da outra.
Tal como os órgãos do corpo humano, onde
prontamente notamos que todos concorrem para um fim comum, que é o da saúde
desse mesmo corpo composto por eles, de idêntico modo estão as forças vivas do
corpo colectivo que os povos conhecem sob o nome de Nação. Transposta esta figura do plano individual para o
comunitário, como acaba de fazer-se, teremos por analogia de atribuição que
essas forças vivas não se hostilizam, nem experimentam entre elas, quaisquer
sentimentos de rivalidade, assim como não deixam atrás o mínimo vestígio de
inveja.
Cada uma delas tem plena consciência da sua
integral validade e que representa uma necessidade premente para todo o corpo
social. Com os partidos, isto não sucede. Nenhum partido há que una; dividem e
mais não fazem que confrontar-se. Essas óperas-bufas, a que chamam coligações,
são ditadas por meros e fugazes interesses de momento, e nada têm a ver com um
genuíno espírito de unidade, muito menos de doação recíproca. Os partidos são
animados pelo único propósito de derrubar quem se senta no poder para, em
seguida, ocupar o lugar deixado vago. Se, durante o assalto à praça tão
apetecida, é ofensiva a sua táctica, depois de lá se instalar, passa a uma
teimosa defesa da posição conquistada. Governar capazmente, para isso são
impotentes, consoante acima se sublinhou.
Do sistema partidário, é lícito afirmar com
inteira propriedade que é um estado crónico de guerra civil incruenta. Só o
facto de ser um estado crónico, transforma a luta partidária noutro flagelo de
nefastas consequências. Em contrapartida, nenhum corpo intermédio aspira ao
senhorio do poder: deixa essa vã ambição aos partidos. Os corpos intermédios
conhecem perfeitamente que a sua soberania é solidária e não deixa de fora
nenhum deles.
Tudo quanto é humano, é contingente. Portanto,
o que sai das mãos do homem leva infalivelmente o selo do que é limitado. Sendo
limitado, como do próprio termo se infere, é obra imperfeita. Nem por isso,
contudo, ficamos impedidos de separar o que, por ser humano, está sujeito à
corrupção, daquilo que está privado de bondade na raiz e nos frutos.
É dado seguro que um exame desapaixonado da
História logo nos revelará como os corpos intermédios, esses órgãos já antes
referidos e que constituem as forças vivas da realidade política que é a Nação, reduzem a pó os partidos,
verdadeiros agentes patogénicos das sociedades onde proliferam.
Os partidos, pela sua estrutura e pela sua
teleologia, são instituições com vocação para a desordem e são também germes de
cizânia na pólis. São frutos
peçonhentos de uma árvore chamada Democracia.
Não se encheram de podridão, nem degeneraram: eram já venenosos à data do
nascimento. Transportam o pecado de origem do berço que têm.
Em suma: os partidos são o resultado fatal da
mentira democrática. E esta mentira, não podemos pensar em travá-la no telónio,
onde ela reparte o seu jogo viciado. Aquilo a que se dá o nome de Democracia não se enfrenta, lutando
segundo as suas regras e o seu querer: com tal monstro não se pactua porque ele
não tem um pingo de honra. E é assim que nos cumpre dar remate à ingente tarefa
de lograr o fim desta aberração, levando a que a mesma acabe asfixiada nas
máximas ocas com que inundou o mundo.
Os partidos e os seus antepassados de gorra
com outros parentes espúrios – especialmente o individualismo e o relativismo –
são o cancro aceso que vai roendo o corpo das comunidades humanas. Não pensemos
em dominá-lo com paliativos: remédio para este mal, só a ablação do tumor letal.
A defunção da Idade Média marca o primeiro golpe vibrado na organização
corporativa, sem dúvida o mais benéfico de todos os regimes que o homem já
experimentou no campo económico-laboral. Foi o mais equitativo nesse domínio
tão sensível, mostrando como é possível satisfazer uma exigência básica, qual
seja a de unir capital e trabalho (1).
Se não erramos ao sustentar que a influência
dos corpos intermédios, sob o ponto de vista do que se torna lícito tratar como
uma questão de salus populi, confere
a mesmíssima dignidade a cada um deles, sem uma única excepção, nem por isso é
desarrazoável olhar com especial cuidado um ou outro, neste ou naquele momento.
Obedece-se, então, ao que ditam as circunstâncias do tempo que corre sem
cessar. E assim acompanharemos a dinâmica das instituições humanas, sem trair o
que elas intrinsecamente possuem como seu. Tudo de acordo com a própria vida,
que é movimento segundo o defende a mais pura linha do ideário tradicionalista.
Nestes termos, não parecerá deslocado na
matéria aqui abordada, nem extemporâneo na altura, acrescentar algumas palavras
ao que já se alinhou sobre os grémios profissionais, por ser a produção e
circulação de bens económicos, no viver quotidiano de todos nós, um sector de
vital importância e que se reveste de um melindre muito delicado.
Por isso, se reverte ao ponto do que é a
indissolúvel ligação capital – trabalho.
É tão estreita esta ligação que só por louca temeridade pode ser esquecida.
Mesmo por parte daquele que o mundo se habituou a olhar como pontífice
infalível do credo mítico que
pretendeu arrasar o capital, até por
aí, frise-se uma vez mais, foi trazida à nossa beira a evidência do que há
muito sabia a Tradição, na confissão
aberta de que ninguém «(...) poderá produzir botas sem cabedal.» (2),
confissão esta que a sua própria boca soltou. Só não entende isto quem não
quer. Num laconismo impossível de encurtar, o certo é que, mesmo quem nas
nossas fileiras combate afincadamente esse revolucionário, não lhe deve recusar
a ponta de gratidão que lhe cabe, porque sendo autor das palavras, aqui
transcritas, acertou e definiu primorosamente a relação que nos ocupa, na mais
estrita fidelidade às normas dialéctico-formais – foi breve; preciso; claro; e
conciso!
Na realidade, é património da corrente
tradicionalista a tese de que a ruptura da aliança capital – trabalho abre caminho para a ruína, na medida em que é
factor de riqueza qualquer dos dois elementos enunciados, mas em que nenhum
deles basta se figurar sozinho. Por isso, só unidos se justifica o valor da
existência de ambos. A via, que aponta
para a luta de classes como padrão de comportamento, é a estrada do suicídio
não só económico, como ainda colectivo, porque atinge todos os sectores
produtivos do povo que aceita envolver-se nesse antagonismo. Até que as pessoas
se convençam da falta de razão que subjaz às construções económicas vigentes,
não veremos o termo deste pertinaz duelo, mais ou menos feroz, entre a força,
que produz, e o sangue, que alimenta essa faina. Bom é que cessem ilusões e se
acredite que no capitalismo está escondida a incubação do socialismo!
Um juízo precipitado leva a crer que cada um
destes sistemas é a panaceia de todos os males de que o outro enferma. Erro
funestíssimo! Porque lançar um destes sistemas contra o outro, cavando entre
eles um divórcio que se pretende irreversível, é a grosseiríssima aplicação à
realidade económica daquilo que parece justo chamar pecado ontológico. O Ser
reclama o concurso de duas causas, que o constituem na sua unidade
transcendente – uma, a causa material;
e a outra, denominada causa formal.
Na vida económica, o capital é a causa material;
e a causa formal manifesta-se no trabalho realizado pelo homem. A
participação do homem, neste elemento de produção, confere ao trabalho uma nobreza que o capital não possui. Importa realçar esta
nota para desfazer muitos preconceitos, gerados sobretudo no ventre daninho do
liberalismo, desde que se assistiu à eclosão dos movimentos socialistas, os
quais, contra um capitalismo desumano, levantavam a bandeira de uma luta
igualmente sem ponta de bondade e que os seus optimates sabiam, como continuam a saber que era e é uma luta
votada ao insucesso. Quando se combate por um troféu para dar a todos e ele
fica nas mãos de uns poucos, esse combate é a derrota de quem arrostou com a
dureza das hostilidades e prova manifesta da mentira propalada. Uma mentira da
qual os mais logrados ainda se não compenetraram inteiramente.
Será, porventura, tamanha a cegueira, a ponto
de não se descortinar a façanha das
actuais doutrinas políticas, cindindo capital
e trabalho no seu enunciado
abstracto, para proceder, na prática, à mais promíscua união daqueles elementos
de riqueza, que têm como timbre o que proclamam como valores irredutíveis um ao
outro? Se buscassem o recto equilíbrio entre ambos esses elementos, estariam no
caminho certo; deitando tudo no mesmo vaso, em lugar do canteiro florido, que
alguns teimam em esperar, é um caldo de mau sabor que sai. Pegando nestes dois
elementos – capital e trabalho – o
sistema que ouse dar preferência a um deles sobre o outro, enquanto o fizer,
ficará privado da integridade que enche e completa as coisas criadas que o
quadro do que é contingente nos vai incessantemente oferecendo.
Desenganem-se os povos! Capitalismo e
socialismo são parceiros de rota, ex
rerum natura. Não conseguem dar um passo em frente se se aferram à ideia de
fazer jornada isoladamente: somente avançarão quando se persuadirem que cada um
tem o que ao outro falta, e resolverem juntar-se num todo harmonioso. Com mágoa
se regista que o que hoje observamos neste propósito é, não a procura
desesperada de um pelo outro para progredir vitoriosamente, mas sim a pobre
realidade de um que, em desespero de causa, tolera o outro. Nos diversos planos
em que tenhamos a ventura de ver radiar esse corpo novo, há-de chamar-se-lhe
corporação. Nome que, por trazer o rumo salvador neste angustiante problema, é
logo abafado, porque não está nos propósitos de quem dirige as sociedades
modernas sanar coisa alguma.
Enfrentados o capital e o trabalho, porque
abusiva e violentamente os separaram, vamos assistindo a um espectáculo que lá por
não repetir o cenário das sociedades altamente industrializadas, nem por isso é
menos desolador: hoje, não se avista o clássico quadro de um proletariado que,
deserdado de todos os bens de fortuna, definhava e morria: agora, dá-se entrada
a novos figurantes, que pisam o palco dessa mesma miséria – são nações
inteiras, desgraçadamente sujeitas ao poder brutal de oligarquias que não
conhecem pudor, não sentem compaixão e não recuam perante nada que as afaste de
amontoar dinheiro.
Qual a base em que pousa esta coabitação que a
muitos pode surgir como um conúbio contra
naturam?
Não se compreende bem é o motivo da
estupefacção. Pois custará assim tanto ver que as nações, onde prevalece um
dirigismo económico mais acentuado, necessitam desesperadamente de fundos
porque é fraca a sua produtividade e, consequentemente, baixas são as suas
reservas líquidas? E que, por seu turno, para as nações mais fortes, é de toda
a vantagem a existência desses redutos de pobreza, pois neles encontram mercado
para os seus excedentes de produção, compensando assim os défices internos
desses países em toda a casta de bens? Por último: que onde o capital domina, é
de uso ir buscar mão-de-obra extremamente barata, a qual explora com toda a
facilidade através das multinacionais que cria por toda a parte?
O que nos deve admirar é haver quem não acerte
com o quadro verídico traçado por esta dupla, a qual se não encerra toda a
perfídia que o homem é capaz de transportar consigo, será então porque o Mal é uma fantasia criada por mentes
doentias.
Basta, pois, de reacções que apenas traduzem a
ingenuidade mental dos seguidores do capitalismo, quando não se trata de
malévola simulação. Os que estão de boa
fé, por mais que isso lhes doa, devem compenetrar-se desta fatalidade: o socialismo
durará quanto tempo durar o capitalismo! É esta a sentença que se extrai de
quanto a Revolução Universal engendrou.
Só a Tradição
pode vencer a Revolução. Para
entender isto, nada como recordar, ainda que a breves traços, o trajecto
percorrido desde a convulsão antropocêntrica:
As corporações históricas iniciaram, então,
uma decadência que se foi arrastando através de um lento processo de altos e
baixos, cujos passos, insista-se, não cabe aqui esmiuçar. É preciso deixar que,
sobre os grandes fenómenos que marcam o andamento da vida colectiva, decorra
tempo suficiente para que eles se tornem perceptíveis. Hoje, ressalta claro que
o destino do regime corporativo logo ficou traçado com o triunfo do
mercantilismo. Não queiramos, pois, reviver o calendário passado, quase
dia-a-dia, quando as diferenças assinaláveis demoram pelo que, muitas vezes,
tal exame é supérfluo, se é que não se está mesmo perante um exibicionismo de
erudição.
Retomando o fio do discurso. Naquela queda das
corporações, não vieram abaixo só os grémios profissionais, os quais, enquanto
duraram, transmitiam uma invejável tranquilidade social às comunidades, onde
derramavam a sua acção benfazeja. A estrutura apresentada opunha-se à génese
dos grandes capitalistas com tanta eficácia que esta virtude era
reconhecida e apreciada por destacados
vultos do campo socialista, os quais lhe dispensavam rasgadíssimos elogios.
Os corpos intermédios formavam uma realidade
viva, pujante de seiva; eram notoriamente actuantes; e estendiam-se por todo o
tecido social. Desapareceram, mas podem voltar na veste das autarquias
geográficas tomando figura no município, de tão rico passado entre nós; das
corporações da cultura e do ensino; das artes; da educação física e desporto; e
de tudo o mais, onde se sinta vivamente o pulsar da Nação.
A antítese partidos
– forças vivas impõe que não se protele a opção. O regresso à Tradição manda restaurar os corpos
intermédios por uma questão de sobrevivência nacional; a integração nos partidos
dissolve e, com isso, rouba personalidade aos que por ali se perdem, que é, a
bem dizer, o caso de uma imensa maioria, senão mesmo de todos. A escolha
repousa na distância que separa a atitude de quem decide viver, em contraste
com a posição daquele que se nega a si mesmo, sumindo-se paulatinamente nas profundezas do seu próprio ser.
A sociedade, onde vigore o sistema partidário
pelo qual se governa, não é uma sociedade com rosto humano, porque está
atomizada: é um composto de indivíduos,
que contam como números para uma soma aritmética. Na comunidade, que obedeça à
ordem tradicional, cada pessoa é
avaliada segundo o peso que tem, preservando assim uma identidade que não se
confunde com a de nenhum dos que o rodeiam: ali, não se rende culto à atroz
mistificação da mensagem igualitária! Do fementido princípio da igualdade,
derivam todas as falácias democráticas, in
casu, o sufrágio universal, cujo funcionamento não se entende sem as
trombetas de mau agoiro que são os partidos.
Na feira que os partidos levantam, feira que
tem o bulício de todas as feiras, mas delas não guarda aquele cunho alegre e
simpático, tão comum a outras bem conhecidas que se estendiam e ainda se vêem
nas nossas terriolas, a algazarra, insista-se, dos seus comícios e debates, paredes
meias com o vozear de sessões em que o obscurecimento sobra e a luz escasseia,
nessa turbulenta feira é só uma a música que soa. Os clamores gritados, que por
ali se erguem, são arrancos de gente sem outro sentir para lá do mórbido
apetite de semear desgraça. Incapazes de entoar algo que dê uns longes de
coerência lógica, ocupam-se no ofício de moer os ouvidos e esvaziar as mentes.
Esta tarefa, que podia não ir além de mera tentativa, as mais das vezes é crime
consumado!
Joaquim Maria Cymbron