Dei a esta peça o nome que se lê, porque achei que era adequado ao propósito que tenho de encher com ela as últimas páginas de uma obra ainda a editar.
Sairá a lume? Pergunta de difícil resposta, não só porque cai no tempo futuro, como principalmente pelos entraves que me são levantados a toda a hora.
Porém, a minha fé na Tradição mantém-se intacta!
Sou católico! Se for encontrado sem dar acordo de mim, mas em estado de se poder presumir que a vida ainda não abandonou o meu corpo, rogo por caridade que se providencie para me ser administrado o sacramento da Santa Unção. Deus pague a quem esse bem me fizer!
Pai Santo, eu Vos dou graças por me
terdes criado com vocação à eterna Glória, e pelos outros dons que me
dispensastes até hoje, dos quais é minha obrigação tornar-me digno
orientando-os, mediante o Vosso amparo, em direcção ao meu fim supremo que é o
de Vos adorar, amar e servir!
Entretanto, procuro acolher os males que
me afligem no corpo ou na alma como castigo das minhas infidelidades, e um
chamamento à reconciliação e comunhão convosco. Não permitais, Senhor, que
permaneça surdo a este apelo que olho como mais um sinal da Vossa clemência e,
quanto ao resto, dai-me ânimo para expiar a minha culpa carregando, com amor, a
cruz que me destinastes, sem um só momento esquecer o sacrifício que Vosso
Filho realizou para me libertar – Ele que foi; é; e será, pelos séculos dos
séculos, o Cordeiro Imaculado!
Que eu saiba, pois, aceitar e oferecer
as agonias passadas, presentes e futuras como penitência pelos pecados
cometidos e, em lugar de continuar a ofender-Vos, faça oblação do que me fere
nas aras do Vosso altar, com o que espero achar complacência a Vossos olhos!
Por este propósito, suplico o Vosso conforto
nas horas de amargura, assim como naquelas em que me atormentam as dores
físicas, para que não me revolte, não entre em desespero, nem caia em mais
desmandos; ao mesmo tempo, imploro o Vosso auxílio nos instantes de triunfo, ou
quando sofro a derrota, para chegar à humildade, única arma capaz de abater a
soberba, a qual tantas vezes me tem impedido de ver que provêm exclusivamente
de Vós todos os bens por mim recebidos; que, longe de Vós, ando perdido porque
só em Vós se encontra a plenitude da felicidade; e que, fora da Vossa
misericórdia, acabarei condenado!
Enchei-me, também, de paciência contra a
ira; palavras praguentas e outras juras; linguagem imoderada; lamentações e
mais desabafos que, em mim, se soltam à mais pequena contrariedade, o que muito
me dói, Senhor, por saber que todas as provações, mesmo as mais duras e
custosas de suportar, é a Vossa providência que as envia ou nelas consente para
temperar-me a alma. E se não me experimentais na medida da culpa contraída,
maior terá de ser a minha conformidade à Vossa divina vontade. Mas se me
chamais à ascese para catarse das paixões que me assaltam, aí, só me resta
invocar a Vossa ajuda para, sem temor, bradar: amplius, Domine!
Peço-Vos mais, Senhor: peço a graça de
crescer na virtude da caridade e que me deis fortaleza bastante para a derramar
à minha volta, especialmente a favor daqueles aos quais me unem ou uniram laços de afecto ou
de amizade, bem como de todos perante os quais estou ou fiquei em dívida por imperativos
de Justiça. E que eu nunca afaste os que me fazem ou fizeram mal; que me incline
sempre ao perdão; e que ganhe a simplicidade capaz de alcançá-lo dos que, por
algum modo, ofendi! Finalmente, se eu tiver de julgar, que o meu juízo saia
animado de recta intenção; vá carregado de prudência; e seja proferido em tempo
oportuno. Sobretudo que, em cada passo da minha vida, não deixe atrás a
compaixão!
Por enquanto, Senhor, para que o meu
peregrinar na Terra se converta num hino de louvor à Vossa glória, guardai a
minha mente e o meu coração de todo o império da concupiscência!
O que apeteço, Senhor, não tem fim,
porque eu me consumo no desejo ardente de contemplar a Vossa visão beatífica.
Por mais que multiplique os apelos, nem por isso a minha persistência há-de
preencher o que sempre falta atingir por quem é finito. Vale-me a Vossa bondade
que jamais afasta uma oração que qualquer, de entre os Vossos filhos, levante
com amor até Vós, principalmente quando esse filho, Pai amantíssimo, tanto
carece do Vosso perdão, como é o meu caso!
Enfim, que o Vosso Espírito me ilumine e
fortifique para que cumpra os Vossos desígnios; e onde eu andar cego, ou a
minha vontade fraquejar miseravelmente, mandai que Vosso Filho me estenda a mão
e guie pelos Vossos caminhos!
Assim, no termo dos meus dias, se as
minhas acções forem tidas à conta de Justiça, espero a minha salvação, confiado
nos méritos infinitos do Sagrado Coração de Jesus!
Que a Virgem Puríssima, Santa Maria,
tome em Suas mãos imaculadas a minha prece e Vos faça entrega dela. E que, ao
lado do Redentor, Seu bendito Filho, e de S. José, Seu castíssimo Esposo,
perfeita a trindade da Sagrada Família, me assistam no transe da minha morte e
conduzam até Vós, meu Senhor e meu Deus!
Ámen!
Joaquim Maria Cymbron
Misericors et propitius est Dominus,
Tardus ad iram et admodum clemens.
Non in perpetuum contendit,
Neque in aeternum succenset,
Non secundum peccata nostra agit nobiscum,
Neque secundum culpas nostras retribuit nobis.
(Ps.102, 8-10)
Ne uocaueris in iudicium seruum tuum,
Quia nemo uivens iustus est coram te.
(Ps.142, 2)