A carta aberta aos deputados do meu país é um documento apreciável. Mas nela há um trecho que não posso deixar passar sem reparo:
Encontra-se ele quando a autora, ao mesmo tempo que elogia o Grão-Duque do Luxemburgo pela sua recusa em sancionar, naquele país, a lei que autorizava a eutanásia e o suicídio assistido, escreve, a respeito daquele soberano, que «não é por ser católico que assim age, porque o direito à vida é de ordem natural e a eutanásia é tão reprovável para o cristão, como para o pagão.» (O negrito é meu).
É verdade que a eutanásia devia ser condenável aos olhos de qualquer homem e que o pagão pode ter disso uma noção clara, mostrando-se até muito mais fiel a este princípio do que aquele que se diz cristão. E isto porque o direito à vida é, de facto, um imperativo que decorre da lei natural!
Simplesmente, a lei natural, como a definia S.Tomás de Aquino, é «participatio legis aeternae in rationali creatura (...)» (1). Ora a lei eterna é aquela que existe na mente divina, desde toda a eternidade. E foi em Jesus Cristo e pelos seus Apóstolos que nos foi revelada.
Quando votei contra a despenalização do aborto, fi-lo como ser racional, mas fi-lo também como crente da religião que professo (2).
O Grão-Duque do Luxemburgo, sendo católico, quando se negou a assinar a lei iníqua, votada no seu país, deu testemunho, por obras, da sua fé católica.
Há uma coisa curiosa que tenho de registar, antes de terminar:
Se o Grão-Duque tivesse ratificado a lei, certamente não faltaria quem erguesse a voz perguntando: E é isto um católico?
O escândalo seria então legítimo. Porquê, pois, deixar no olvido a sua condição de católico, quando se mostra à altura dela?
Joaquim Maria Cymbron
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- Summa Theologica q. 91, a. 2, ad 3.
- Col. 3, 17; 1 Cor. 10, 31.
JMC
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