Mais uma vez este
blogue veste luto.Com efeito,foi Deus servido chamar a Si mais um indómito combatente do Ultramar, filho
legítimo de uma Guiné que não morre na saudade de quem por lá passou.
Alguém lhe chamou o último cruzado do Império. Não me parece exagero. E, por mal dos nossos pecados, é bem capaz de ser merecida a homenagem contida naquelas palavras. Não propriamente porque esteja desfeito o Império, nem porque morreu o seu último cruzado, mas porque andam ocultas as virtudes da gente que o ergueu. Ora um império toca o fim, quando no seu povo se desiste de viver o sentido de uma vocação histórica.
Com efeito, a história
pátria foi uma sucessão de cruzados imperiais – quando a morte ceifava um, logo
outro surgia ocupando o lugar que passava a estar vago. Essa cadeia quebrou!
Na realidade, que temos, hoje,
esfumadas as glórias de um império de generosa dádiva ao próximo e carregado de um sacrifício
perseverante? – Por desventura nossa, como deixei dito e só não vê quem não
quer, já não brilha esse império digno de ser vivido. Apagado esse fulgor, debaixo
de um céu pejado de nuvens formando um quadro que é prenúncio do mais
desesperado futuro, coube-nos o triste fado de uma soberania miserável trazida
nas asas mortais da mediocridade.
A mediocridade é a
árvore da desolação. Dos ramos, que estende, só pendem frutos peçonhentos. Na
escala de valores, a mediocridade leva nota que a situa no patamar mais nefasto:
é impotente para agir com um mínimo de bem aceitável; e só não é demasiado presumida
para se confessar um depósito de nulidades, porque ainda tem noção de que a nulidade não existe. Este é muito possivelmente o seu único mérito. Em suma: não chega a subir, por notória
incapacidade; e mostra escrúpulos em descer, por falta de humildade. Padece,
pois, de um vício de identidade que a torna obnóxia. Salta à vista que este
vício não tolera correcção!
Marcelino da Mata foi mais
um mártir às mãos dos medíocres. Acho que isso conduz apenas a um resultado: distingue-o
do comum das gentes, com especial relevo para os seus perseguidores. Sobre um
peito constelado de veneras, continuam a vomitar ódio! Do ódio, dizia o grande Camilo que
esse sentimento, no coração dos fracos, «é inextinguível; é a única força, a
energia tenebrosa, que lhes deu a natureza.»
Numa festa campestre de
há muitos anos, sucedeu que Marcelino da Mata se encontrava ali presente. O evento foi muito concorrido. Em determinado
momento, o bravo militar foi procurado por outro convidado. Era o pai de um dos
carrascos que o torturaram ignobilmente após o 11 de Março, o qual fez questão de saudar o nosso Herói. Eu estava
por perto e ouvi Marcelino da Mata, que o acolhera com a cortês simplicidade que era seu timbre, dizer àquele pai que havia muito já perdoara o mal que sofrera.
Perdoar é divino. E é
no perdão que o homem mais se aproxima do Criador. Também nesta virtude é
grande, verdadeiramente desmesurada a distância que corre entre Marcelino da
Mata e os seus detractores.
Não se abrem as portas
do Panteão Nacional para receber os seus restos mortais? Por mim, direi que não
vejo nisso qualquer tragédia. E acrescento que se fora o representante legal do
Herói, certo e sabido que o seu corpo ali não entraria sem que, antes, de lá
saíssem uns quantos. Alguma vez se pode conceber que o último cruzado do Império – na luminosa imagem que transpus de
fonte alheia – descanse ao lado de quem foi encarnação do modelo invertido de
uma vida impoluta, ao serviço de uma Pátria que esses traíram?
E, afinal, isso que monta?
– As portas, que não se lhe cerraram, são as do Céu. Este há-de ser o estado de
espírito da consciência católica do povo de Portugal e de todo o homem de boa
vontade, fundada essa esperança na convicção profunda de que Deus, na Sua infinita misericórdia, paga
generosamente àqueles que tantas provas de intenso amor deram à Pátria terrestre!
P.N.; A.M.; G.P.!
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