De pé e em sentido que o povo vai desfilar. E não é qualquer povo – é o povo
soberano; também não é um desfile banal – é uma marcha a caminho das urnas. É
ou não magnífico?
Uma semana mais e é a festança que chega. Avizinha-se, todos o sabem, um novo acto eleitoral. Não tardam os pregões públicos, que o anunciam, na costumada berraria que tudo invade. O pior é que a próxima peça, a subir à cena, não presta sequer para sofrível drama teatral, como tantos mais que há. Não, decididamente não serve para tal. E isto porque não vai além de uns desventurados cortejos, míseros cortejos de uma ponta à outra, o que ainda nos permitiria olhá-los como peças a exibirem-se nalgum palco montado à pressa, se não fora a sua medíocre qualidade artística que até essa possibilidade lhes retira. Ora a mediocridade é, provavelmente, a pior nota na escala de valores, porque, mais do que impotência para ter alguma parcela de utilidade e eficácia, é teimosa na recusa em descer ao patamar do mau, ao mesmo tempo que nela não se vê força capaz de subir ao suficiente. Esta tragédia, que não vale como drama de entretenimento, conforme se acaba de expor, foi desenhada há muito, muitíssimo tempo, nos escuros recantos da iniquidade. Desprovida de qualquer tipo de beleza, é fértil em resultados funestos.
A vida é repleta de antagonismos. Na aspiração do ideal, esses
conflitos nem deviam ver a luz do dia, mas o certo é que ocorrem. Para os
anular ou, pelo menos, amenizar, tem o homem o recurso à Moral e
ao Direito: as regras morais formam-no interiormente, sendo a base
do seu comportamento para com Deus e na relação com o seu semelhante; os
comandos jurídicos, naquele grau em que se subordinam à lei natural e
carregando a sua característica nota de coercibilidade, ajudam-no a caminhar em
direcção ao fim para o qual a Moral o convida.
A necessidade da vigência destes dois complexos de normas – Moral e Direito
– só desaparecerá na bem-aventurança porque aí impera a caridade. Até esse
momento de suprema felicidade para o ser humano, é perfeitamente legítimo
considerar que Moral e Direito são uma dádiva
preciosa de Deus a cada um de nós.
Na oposição existente entre partidos e forças
vivas, nesse choque, insista-se, que marca o que aqui se vai tratar, a via
adequada a realizar o anseio de tocar a plenitude da equidade, na medida em que
tal meta se encontra ao alcance do homem, é só uma – a política observada
pela Tradição.
Ao longo da exposição, que segue, se perceberá porquê.
O navegante, que atravessou mares borrascosos, quando avista terra, sente voltar a confiança porque é sinal da proximidade de um porto de abrigo. Infelizmente, não é esse o sossego que se vive sempre que aparece à vista aquilo a que os convencionalismos da política resolveram chamar eleições.
Isto que é, afinal? O que se vê são uns magotes de gente, onde cada qual grita que vale mais que os outros, cobrindo-se reciprocamente de ataques soezes e de torpes injúrias, num clima em que frequentemente são postas de lado as regras mínimas da civilidade, umas regras que talvez nunca tenham feito parte dos seus conhecimentos – eis aqui um esboço do quadro formado por esses cortejos bulhentos, que periodicamente teimam num ir e vir ao toque de uma música delirante. E é destes amontoados sem lei nem ordem que, certamente por artes de alquimia, há quem pretenda arrancar os benfeitores da sociedade política, os magos que trarão o remédio infalível, enfim, aqueles que, nas voltas do calendário, se apresentam ciclicamente como redentores da Pátria.
Ocupa-se um cargo político para servir. Isto e apenas isto confere legitimidade a quem está no respectivo lugar. O modo de selecção dos seus titulares é assunto sempre subordinado à legitimidade de exercício. O panorama eleiçoeiro é apto à consecução deste fim?
No dever constante de conceder o juízo mais favorável à parte, cujo comportamento se aprecia, obrigação esta que é indeclinável para cada homem, não se pode negar, primo conspectu, que parece estarmos defronte de um sentimento altruísta com uma ardorosa entrega ao interesse do próximo. Contudo, torna-se por igual irrefutável que esse sentimento, sem dúvida positivo, nas circunstâncias apontadas, cai em excessos que geram suspeição legítima. Há bondade a rodo, é notória a demasia! Quando a esmola é muita, o pobre desconfia, reza o ditado. Generosidade, aqui; abnegação, acolá! Tão ardente agitação será movida por um desejo autêntico a prol do comum? Merece crédito todo este afã, ainda por cima com um número incontável de desencontros e fricções? A afirmativa, em resposta à interrogação formulada, desafiaria as mais elementares normas do equilíbrio mental.
Os protagonistas desta balbúrdia contínua dão pelo nome de partidos. É manifesto que nunca podem governar coisa de jeito. Governar é construir, e os que gastam engenho e forças, que eventualmente possuam, a hostilizar-se uns aos outros, só guardam toda essa carga, positiva in abstracto, para a aplicar como meios de destruição. Para mais do que isto, não lhes sobra tempo nem energia.
A instabilidade dos governos partidários, resultado infalível da guerra permanente que os esgota, vem confirmar tudo que, à roda deles, nos é dado contemplar. É a sina a que não podem escapar por força do sistema em que se atolaram. Nisto está o contraste nítido, que os separa irreversivelmente de uma organização política dirigida no interesse do homem, visto e tratado segundo a lei natural.
Em seguida, se perceberá porquê.
Com efeito, as instituições, que ocupam o cabeçalho do presente texto, dizem tudo: apontam para uma relação de mútua exclusão e, na verdade, onde está uma das que ali figuram, sente-se a ausência da outra.
Tal como os órgãos do corpo humano, onde prontamente notamos que todos concorrem para um fim comum, que é o da saúde desse mesmo corpo composto por eles, de idêntico modo estão as forças vivas do corpo colectivo que os povos conhecem sob o nome de Nação. Transposta esta figura do plano individual para o comunitário, como acaba de fazer-se, teremos por analogia de atribuição que essas forças vivas não se hostilizam, nem experimentam entre elas, quaisquer sentimentos de rivalidade, assim como não deixam atrás o mínimo vestígio de inveja.
Cada uma delas tem plena consciência da sua integral validade e que representa uma necessidade premente para todo o corpo social. Com os partidos, isto não sucede. Nenhum partido há que una; dividem e mais não fazem que confrontar-se. Essas óperas-bufas, a que chamam coligações, são ditadas por meros e fugazes interesses de momento, e nada têm a ver com um genuíno espírito de unidade, muito menos de doação recíproca. Os partidos são animados pelo único propósito de derrubar quem se senta no poder para, em seguida, ocupar o lugar deixado vago. Se, durante o assalto à praça tão apetecida, é ofensiva a sua táctica, depois de lá se instalar, passa a uma teimosa defesa da posição conquistada. Governar capazmente, para isso são impotentes, consoante acima se sublinhou.
Do sistema partidário, é lícito afirmar com inteira propriedade que é um estado crónico de guerra civil incruenta. Só o facto de ser um estado crónico, transforma a luta partidária noutro flagelo de nefastas consequências. Em contrapartida, nenhum corpo intermédio aspira ao senhorio do poder: deixa essa vã ambição aos partidos. Os corpos intermédios conhecem perfeitamente que a sua soberania é solidária e não deixa de fora nenhum deles.
Tudo quanto é humano, é contingente. Portanto, o que sai das mãos do homem leva infalivelmente o selo do que é limitado. Sendo limitado, como do próprio termo se infere, é obra imperfeita. Nem por isso, contudo, ficamos impedidos de separar o que, por ser humano, está sujeito à corrupção, daquilo que está privado de bondade na raiz e nos frutos.
É dado seguro que um exame desapaixonado da História logo nos revelará como os corpos intermédios, esses órgãos já antes referidos e que constituem as forças vivas da realidade política que é a Nação, reduzem a pó os partidos, verdadeiros agentes patogénicos das sociedades onde proliferam.
Os partidos, pela sua estrutura e pela sua teleologia, são instituições com vocação para a desordem e são também germes de cizânia na pólis. São frutos peçonhentos de uma árvore chamada Democracia. Não se encheram de podridão, nem degeneraram: eram já venenosos à data do nascimento. Transportam o pecado de origem do berço que têm.
Em suma: os partidos são o resultado fatal da mentira democrática. E esta mentira, não podemos pensar em travá-la no telónio, onde ela reparte o seu jogo viciado. Aquilo a que se dá o nome de Democracia não se enfrenta, lutando segundo as suas regras e o seu querer: com tal monstro não se pactua porque ele não tem um pingo de honra. E é assim que nos cumpre dar remate à ingente tarefa de lograr o fim desta aberração, levando a que a mesma acabe asfixiada nas máximas ocas com que inundou o mundo.
Os partidos e os seus antepassados de gorra com outros parentes espúrios – especialmente o individualismo e o relativismo – são o cancro aceso que vai roendo o corpo das comunidades humanas. Não pensemos em dominá-lo com paliativos: remédio para este mal, só a ablação do tumor letal.
A defunção da Idade Média marca o primeiro golpe vibrado na organização corporativa, sem dúvida o mais benéfico de todos os regimes que o homem já experimentou no campo económico-laboral. Foi o mais equitativo nesse domínio tão sensível, mostrando como é possível satisfazer uma exigência básica, qual seja a de unir capital e trabalho (1).
Se não erramos ao sustentar que a influência dos corpos intermédios, sob o ponto de vista do que se torna lícito tratar como uma questão de salus populi, confere a mesmíssima dignidade a cada um deles, sem uma única excepção, nem por isso é desarrazoável olhar com especial cuidado um ou outro, neste ou naquele momento. Obedece-se, então, ao que ditam as circunstâncias do tempo que corre sem cessar. E assim acompanharemos a dinâmica das instituições humanas, sem trair o que elas intrinsecamente possuem como seu. Tudo de acordo com a própria vida, que é movimento segundo o defende a mais pura linha do ideário tradicionalista.
Nestes termos, não parecerá deslocado na matéria aqui abordada, nem extemporâneo na altura, acrescentar algumas palavras ao que já se alinhou sobre os grémios profissionais, por ser a produção e circulação de bens económicos, no viver quotidiano de todos nós, um sector de vital importância e que se reveste de um melindre muito delicado.
Por isso, se reverte ao ponto do que é a indissolúvel ligação capital – trabalho. É tão estreita esta ligação que só por louca temeridade pode ser esquecida. Mesmo por parte daquele que o mundo se habituou a olhar como pontífice infalível do credo mítico que pretendeu arrasar o capital, até por aí, frise-se uma vez mais, foi trazida à nossa beira a evidência do que há muito sabia a Tradição, na confissão aberta de que ninguém «(...) poderá produzir botas sem cabedal.» (2), confissão esta que a sua própria boca soltou. Só não entende isto quem não quer. Num laconismo impossível de encurtar, o certo é que, mesmo quem nas nossas fileiras combate afincadamente esse revolucionário, não lhe deve recusar a ponta de gratidão que lhe cabe, porque sendo autor das palavras, aqui transcritas, acertou e definiu primorosamente a relação que nos ocupa, na mais estrita fidelidade às normas dialéctico-formais – foi breve; preciso; claro; e conciso!
Na realidade, é património da corrente tradicionalista a tese de que a ruptura da aliança capital – trabalho abre caminho para a ruína, na medida em que é factor de riqueza qualquer dos dois elementos enunciados, mas em que nenhum deles basta se figurar sozinho. Por isso, só unidos se justifica o valor da existência de ambos. A via, que aponta para a luta de classes como padrão de comportamento, é a estrada do suicídio não só económico, como ainda colectivo, porque atinge todos os sectores produtivos do povo que aceita envolver-se nesse antagonismo. Até que as pessoas se convençam da falta de razão que subjaz às construções económicas vigentes, não veremos o termo deste pertinaz duelo, mais ou menos feroz, entre a força, que produz, e o sangue, que alimenta essa faina. Bom é que cessem ilusões e se acredite que no capitalismo está escondida a incubação do socialismo!
Um juízo precipitado leva a crer que cada um destes sistemas é a panaceia de todos os males de que o outro enferma. Erro funestíssimo! Porque lançar um destes sistemas contra o outro, cavando entre eles um divórcio que se pretende irreversível, é a grosseiríssima aplicação à realidade económica daquilo que parece justo chamar pecado ontológico. O Ser reclama o concurso de duas causas, que o constituem na sua unidade transcendente – uma, a causa material; e a outra, denominada causa formal.
Na vida económica, o capital é a causa material; e a causa formal manifesta-se no trabalho realizado pelo homem. A participação do homem, neste elemento de produção, confere ao trabalho uma nobreza que o capital não possui. Importa realçar esta nota para desfazer muitos preconceitos, gerados sobretudo no ventre daninho do liberalismo, desde que se assistiu à eclosão dos movimentos socialistas, os quais, contra um capitalismo desumano, levantavam a bandeira de uma luta igualmente sem ponta de bondade e que os seus optimates sabiam, como continuam a saber que era e é uma luta votada ao insucesso. Quando se combate por um troféu para dar a todos e ele fica nas mãos de uns poucos, esse combate é a derrota de quem arrostou com a dureza das hostilidades e prova manifesta da mentira propalada. Uma mentira da qual os mais logrados ainda se não compenetraram inteiramente.
Será, porventura, tamanha a cegueira, a ponto de não se descortinar a façanha das actuais doutrinas políticas, cindindo capital e trabalho no seu enunciado abstracto, para proceder, na prática, à mais promíscua união daqueles elementos de riqueza, que têm como timbre o que proclamam como valores irredutíveis um ao outro? Se buscassem o recto equilíbrio entre ambos esses elementos, estariam no caminho certo; deitando tudo no mesmo vaso, em lugar do canteiro florido, que alguns teimam em esperar, é um caldo de mau sabor que sai. Pegando nestes dois elementos – capital e trabalho – o sistema que ouse dar preferência a um deles sobre o outro, enquanto o fizer, ficará privado da integridade que enche e completa as coisas criadas que o quadro do que é contingente nos vai incessantemente oferecendo.
Desenganem-se os povos! Capitalismo e socialismo são parceiros de rota, ex rerum natura. Não conseguem dar um passo em frente se se aferram à ideia de fazer jornada isoladamente: somente avançarão quando se persuadirem que cada um tem o que ao outro falta, e resolverem juntar-se num todo harmonioso. Com mágoa se regista que o que hoje observamos neste propósito é, não a procura desesperada de um pelo outro para progredir vitoriosamente, mas sim a pobre realidade de um que, em desespero de causa, tolera o outro. Nos diversos planos em que tenhamos a ventura de ver radiar esse corpo novo, há-de chamar-se-lhe corporação. Nome que, por trazer o rumo salvador neste angustiante problema, é logo abafado, porque não está nos propósitos de quem dirige as sociedades modernas sanar coisa alguma.
Enfrentados o capital e o trabalho, porque abusiva e violentamente os separaram, vamos assistindo a um espectáculo que lá por não repetir o cenário das sociedades altamente industrializadas, nem por isso é menos desolador: hoje, não se avista o clássico quadro de um proletariado que, deserdado de todos os bens de fortuna, definhava e morria: agora, dá-se entrada a novos figurantes, que pisam o palco dessa mesma miséria – são nações inteiras, desgraçadamente sujeitas ao poder brutal de oligarquias que não conhecem pudor, não sentem compaixão e não recuam perante nada que as afaste de amontoar dinheiro.
Qual a base em que pousa esta coabitação que a muitos pode surgir como um conúbio contra naturam?
Não se compreende bem é o motivo da estupefacção. Pois custará assim tanto ver que as nações, onde prevalece um dirigismo económico mais acentuado, necessitam desesperadamente de fundos porque é fraca a sua produtividade e, consequentemente, baixas são as suas reservas líquidas? E que, por seu turno, para as nações mais fortes, é de toda a vantagem a existência desses redutos de pobreza, pois neles encontram mercado para os seus excedentes de produção, compensando assim os défices internos desses países em toda a casta de bens? Por último: que onde domina o modelo socialista, é de uso o capital ir buscar mão-de-obra extremamente barata, a qual explora com toda a facilidade através das multinacionais que cria por toda a parte?
O que nos deve admirar é haver quem não acerte com o quadro verídico traçado por esta dupla, a qual se não encerra toda a perfídia que o homem é capaz de transportar consigo, será então porque o Mal é uma fantasia criada por mentes doentias.
Basta, pois, de reacções que apenas traduzem a ingenuidade mental dos seguidores do capitalismo, quando não se trata de malévola simulação. Os que estão de boa fé, por mais que isso lhes doa, devem compenetrar-se desta fatalidade: o socialismo durará quanto tempo durar o capitalismo! É esta a sentença que se extrai de quanto a Revolução Universal engendrou.
Só a Tradição pode vencer a Revolução. Para entender isto, nada como recordar, ainda que a breves traços, o trajecto percorrido desde a convulsão antropocêntrica:
As corporações históricas iniciaram, então, uma decadência que se foi arrastando através de um lento processo de altos e baixos, cujos passos, insista-se, não cabe aqui esmiuçar. É preciso deixar que, sobre os grandes fenómenos que marcam o andamento da vida colectiva, decorra tempo suficiente para que eles se tornem perceptíveis. Hoje, ressalta claro que o destino do regime corporativo logo ficou traçado com o triunfo do mercantilismo. Não queiramos, pois, reviver o calendário passado, quase dia-a-dia, quando as diferenças assinaláveis demoram pelo que, muitas vezes, tal exame é supérfluo, se é que não se está mesmo perante um exibicionismo de erudição.
Retomando o fio do discurso. Naquela queda das corporações, não vieram abaixo só os grémios profissionais, os quais, enquanto duraram, transmitiam uma invejável tranquilidade social às comunidades, onde derramavam a sua acção benfazeja. A estrutura apresentada opunha-se à génese dos grandes capitalistas com tanta eficácia que esta virtude era reconhecida e apreciada por destacados vultos do campo socialista, os quais lhe dispensavam rasgadíssimos elogios.
Os corpos intermédios formavam uma realidade viva, pujante de seiva; eram notoriamente actuantes; e estendiam-se por todo o tecido social. Desapareceram, mas podem voltar na veste das autarquias geográficas tomando figura no município, de tão rico passado entre nós; das corporações da cultura e do ensino; das artes; da educação física e desporto; e de tudo o mais, onde se sinta vivamente o pulsar da Nação.
A antítese partidos – forças vivas impõe que não se protele a opção. O regresso à Tradição manda restaurar os corpos intermédios por uma questão de sobrevivência nacional; a integração nos partidos dissolve e, com isso, rouba personalidade aos que por ali se perdem, que é, a bem dizer, o caso de uma imensa maioria, senão mesmo de todos. A escolha repousa na distância que separa a atitude de quem decide viver, em contraste com a posição daquele que se nega a si mesmo, sumindo-se paulatinamente nas profundezas do seu próprio ser.
A sociedade, onde vigore o sistema partidário pelo qual se governa, não é uma sociedade com rosto humano, porque está atomizada: é um composto de indivíduos, que contam como números para uma soma aritmética. Na comunidade, que obedeça à ordem tradicional, cada pessoa é avaliada segundo o peso que tem, preservando assim uma identidade que não se confunde com a de nenhum dos que o rodeiam: ali, não se rende culto à atroz mistificação da mensagem igualitária! Do fementido princípio da igualdade, derivam todas as falácias democráticas, in casu, o sufrágio universal, cujo funcionamento não se entende sem as trombetas de mau agoiro que são os partidos.
Na feira que os partidos levantam, feira que tem o bulício de todas as feiras, mas delas não guarda aquele cunho alegre e simpático, tão comum a outras bem conhecidas que se estendiam e ainda se vêem nas nossas terriolas, a algazarra, insista-se, dos seus comícios e debates, paredes meias com o vozear de sessões em que o obscurecimento sobra e a luz escasseia, nessa turbulenta feira é só uma a música que soa. Os clamores gritados, que por ali se erguem, são arrancos de gente sem outro sentir para lá do mórbido apetite de semear desgraça. Incapazes de entoar algo que dê uns longes de coerência lógica, ocupam-se no ofício de moer os ouvidos e esvaziar as mentes. Esta tarefa, que podia não ir além de mera tentativa, as mais das vezes é crime consumado!
Joaquim Maria Cymbron
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- https://legitimismo.blogspot.com/2007/12/economia-luz-da-metafisica.html.
- Karl Marx
– O Capital, I, Delfos, 7.ª
ed., p.103 .
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